
E novamente mais uma vontade de gritar,
abro a boca com muito esforço e nenhum som sai. Esforço a garganta e sinto ela
rouca e arranhada, arranhada pelos gritos mudos que não saem e pelas palavras
que não posso e nem devo dizer…Palavras que disse de forma inconsciente e que
te afastaram e assim proibi-me de falar, de ter voz… Porque não te quero magoar
novamente.
Hoje acordei com dor de garganta porque
ela está fechada, entupida por todos os gritos que não posso dar, as cordas
vocais deram o nó e assim já não falo, o meu cérebro não pára e não me deixa
descansar, acuso-me por ter falhado, culpo-me por não ser bom o suficiente,
critico-me por estar constantemente a errar… Não sei é como o meu coração está
a aguentar toda esta pressão, toda esta falta de descanso…
Ontem foi um dia em que perdi todo o meu
equilíbrio, tudo o que eu queria desapareceu, o meu corpo não me respondia, a
minha voz completamente presa, a custo consegui pedir ajuda, as lágrimas
saltavam-me pelo rosto, estava mesmo muito triste e desiludido comigo próprio…
Perdi o pouco brilho que via em mim,
calei a minha voz (que há pouco tempo é que se começou a soltar), não consegui
controlar as minhas emoções e desfaleci naquele momento. Um corpo enorme sem
controlo guiado pelos tremores, como se de um sismo tratasse e eu sem o
conseguir controlar.
Que enorme descontrolo, tantos gritos
mudos que eu dei e uma vontade de desaparecer que ficou… Apenas queria ser
melhor… Bom o suficiente mas não sou e porquê?
Talvez por exigir muito de mim, querer
que vejam o quanto sou bom (sim, eu sei que sou bom, grande antítese), que me
dêem atenção, que me aprovem… E como muitas vezes isso não acontece, eu sinto
tudo a desabar porque não sou capaz de me abraçar, de dar a mão a mim mesmo e
dizer o quanto sou bom. Observo-me e só vejo escuridão, alguém que não é capaz
(mas no fundo sabe que é capaz), alguém que não é bom o suficiente (mas sabe
que é bastante bom) e por isso “dá-se” para que o possam ver e termina por
perder porque se perdeu a si próprio.

E eis que no meio de tanta escuridão
encontrei uma luz pequena e muito brilhante, algo que sinto que tenho que fazer
e vou fazer. Mas primeiro de tudo tenho que desatar o nó que tenho nas minhas
cordas vocais e soltar o grito ou os gritos mudos que estão presos. E vou
gritar que sou bom, que sou capaz e que consigo ver-me e aprovar-me.
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