segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Carta a quem se esqueceu de mim



Hoje decidi escrever esta carta para todos que se esqueceram de mim, até a mim inclusive, pois eu também esqueci-me de mim, é triste mas é verdade.
Ao longo destes 29 anos muitas vezes sentia que as pessoas esqueciam-se de mim, não era a primeira escolha delas, muitas vezes só era escolhido porque já não tinham mais opções. Muito raramente dava o primeiro passo de ser eu a escolher.
Tentava fugir de todos para não sentir aquela rejeição e acabava por fugir de mim também. Em casa fechava-me no meu quarto, deitava-me na cama às escuras a chorar, nem eu próprio conseguia amparar-me.
Fui crescendo, saí da escola e comecei a trabalhar à espera de mudanças mas a verdade é que não chegaram, continuei a ser posto de parte, a ficar num canto sozinho e novamente não era a primeira escolha.
Já tive vários empregos e sempre foi tudo igual, eu esqueci-me de mim, daquilo que eu gostava, daquilo que eu queria fazer e os outros apenas mostravam-me isso, esqueciam-se de mim, não me davam valor, basicamente passei a ser um saco de boxe para eles, na escola em forma de agressão física, em adulto da forma verbal. Era um entretimento para os outros, uma forma de descarregarem a raiva e as frustrações deles.
Sentia-me um fraco, um frágil, uma alma solitária… Uma tristeza profunda foi crescendo dentro de mim, uma vontade enorme de desaparecer… Sentia-me a perder tanta coisa, até a minha fé e a cada dia que passava mais perdia-me, mais esquecia-me de mim, mais os outros se esqueciam de mim.
Até que quando fiz os 29 anos em Setembro de 2016 as coisas começaram a mudar, pois ao começar a praticar yoga, comecei a ver-me, a descobrir-me e as feridas que eu tinha eram enormes. Doíam bastante, então propôs-me à auto cura e ao longo desses 28 anos cresceu uma raiva enorme dentro de mim e que só agora começou a sair para fora, uma grande fúria incontrolável, passei de 8 a 80.
Hoje tenho uma mensagem para todos que se esqueceram de mim (inclusive para mim, que não sou exclusão), aquela criança frágil e fraca que se esqueceram dela, cresceu e tornou-se forte. Hoje valoriza-se e já não se esquece tanto dela e hoje defende-se das agressões.

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