terça-feira, 18 de julho de 2017

Dialecto



Um dia quero escrever uma carta para ti, uma carta onde posso dizer-te tudo o que eu sinto. Mas depois de a ter escrito vou guardá-la porque não tenho coragem para a te entregar ou porque não quero que me vejas a nu. Sei que quando me percorres com o teu olhar eu estou nu à tua frente e só Deus sabe como eu fico tímido com o teu olhar penetrante.
Vou desenhar a carta apenas com o meu cheiro porque estou sem palavras ou porque não quero usar palavras gastas. Não sei que dicionário hei-de usar contigo, pois todos eles estão sem folhas. Tatuo o teu corpo com a minha mente e percorro a tua alma com o meu corpo. Cruzo-me com o teu coração acelerado que pára para me ver, os teus lábios apitam para eu te beijar. Estou marcado em ti como tu estás marcado em mim.
Ai! Como eu gostava de te escrever uma carta mas não sei por onde começar, que chatice, sei que palavras usar mas não as sei redigir em ti. Sinto-me um calceteiro sem pedras, um rio sem água, um ar sem oxigénio, um fogo sem chamas, um vulcão em ebulição mas sem lava no interior.
Amo-te e não tenho como exprimir isso. Não sei escrever uma carta decente para ti ou então não a quero escrever. Pois tu mereces mais que uma carta, mais do que um amo-te. Quero que saibas que eu percorria o mundo inteiro ao teu lado se tu assim o quisesses.
Nunca pensei que fosse tão difícil escrever para ti ou talvez porque gostava de estar a falar com o silêncio das palavras e com a gritaria muda dos olhos. Penso que terminei de redigir algo onde não te digo nada e ao mesmo tempo digo-te tudo.


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